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sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Criatividade: onde tem e onde não tem

Atendendo sugestão da leitora Rosângela Lima, abordo a dificuldade que existe no uso dos espaços de cultura por alguns grupos na cidade. Ela indicou o programa Entrelinhas, em edição exibida recentemente pela TV Cultura, que mostrou a "falta de cinema, de teatro e de museu" na periferia paulistana. E, diante disso, poetas e outros artistas populares dessas regiões usam "botecos" para realizar suas apresentações. O programa é muito bom (assista aqui).

Todavia, faço algumas observações a respeito da abertura que está no site do Entrelinhas: a região do Campo Limpo, onde acontece o Sarau do Binho, tem um Centro Educacional Unificado (CEU), com um teatro que comporta 450 espectadores. E que também é cinema e tem espaço para exposições etc. Ou seja, um espaço de cultura criado pela ex-prefeita Marta Suplicy em áreas de grande exclusão social, como os 21 CEUs do projeto original.

Ressalto que o governo anterior acertou ao construir essas unidades justamente onde a população, os artistas e os produtores culturais tinham pouco ou nenhum espaço público para apresentar suas manifestações criativas. Que além disso, são espaços de convivência, lazer e esporte para a comunidade de cada região onde foram erguidas.

O detalhe é que por causa de uma política de governo, do atual governo, desde janeiro de 2005 os espaços culturais dos 21 CEUs da cidade simplesmente viraram "centros de formatura escolar" ou de reuniões de entidades - a despeito de ser importante toda e qualquer apropriação do espaço pela comunidade. Sabemos, no entanto, que não foi para esse tipo de atividade (formatura e reuniões) que foram projetados teatros como os dos CEUs e nem outros espaços que compõem esses equipamentos.

Vê-se que a comunidade, com sua força criativa, encontra alternativas - onde tem e não há estímulo do poder público ela busca alternativas (como os bares e seus saraus criativos). Mas o fato é que o Campo Limpo tem teatro, cinema e área de exposição e de cultura. Só falta o pessoal da região "retomar" o espaço perdido por conta de uma opção política do atual governo. Assim como as demais regiões da cidade que viram seus CEUs virarem esses "centros de formatura escolar".

Só a título de ilustração, o Itaim Paulista tem dois CEUs (Veredas e Vila Curuçá), cujos teatros têm capacidade (juntos) de reunir 900 pessoas para atividades de cultura, artes, espetáculos e afins.

Nada disso que foi dito acima retira o brilho da iniciativa e da força criadora dos que promovem o sarau que ilustrou a reportagem do Entrelinhas. Apenas reforça o que defendo: apropriação do espaço público pelos que realmente produzem, vivenciam e têm suas manifestações culturais em qualquer ponto da cidade.
PS - Não se pode esquecer das Casas de Cultura, também outro ponto de abandono na área cultural da cidade.

2 comentários:

  1. ACHEI ÓTIMO O COMENTÁRIO A RESPEITO DO CEUS,DEMOSTRANDO A ENPORTANCIA DE APROPIACÇÕES DOS ESPAÇOS CULTURAIS PELO OS GRUPO ARTÍSTICO DAS REGIÕES QUE ESTÁ ESTÁLOCALIZADOS PRINCIPALMENTE OS CEUS OS CEUS E AS CASAS DE CULTURAS.NA FALTA DE UMA POLITICA CULTURAL DA ATUAL GESTÃO, O QUE RESTA UMA PALAVRA QUE ESTÁ BASTANTE DESGASTADA MAIS QUE EU VOU UTILIISAR AQUI,QUE É A REXISTENCIA, E PARA REXISTIR NADA MELLLHOR DE QUE OCUPAR OS ESPAÇOS PUBLLLLLLICOS

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  2. Adorei suas observações sobre os CEU´s. Não querendo fugir do assunto em questão que é o programa Entrelinhas - brilhante iniciativa da TV Cultura – concordo com você quando diz “criatividade onde tem e onde não tem”.

    Os CEU´s foi, se não o, um dos mais importantes projetos da ex-prefeita Marta Suplicy. E aqui expresso meu sentimento como mãe. Lembro-me que na ocasião o projeto político-pedagógico foi elaborado a partir de um estudo sobre as chamadas “zona de exclusão social”.

    Com três unidades cada: Berçário, Infantil e Fundamental, os CEU´s propiciavam, também, o acesso da comunidade ao lazer e a cultura.

    Infelizmente hoje não temos mais a oportunidade de levar nossos filhos para assistirem a uma peça no teatro, nem tão pouco de se deliciarem nas piscinas do CEU´s, exemplo é o CEU Tremembé que teve a piscina retirada do projeto, sem falar no abandono dos demais.

    A ex-prefeita tinha razão quando dizia: “se fosse pelas crianças eu já estaria reeleita”, claro, os pequeninos não metem e adoram quando são tratados com carinho e com o respeito que merecem.

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