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sábado, 27 de janeiro de 2007

Como escolher um candidato

Qualquer democrata acha legítimo que a manifestação de opção por uma candidatura, no caso da eleição para a Câmara dos Deputados, deve ser livre e transparente. Venho criticando - e quem acompanha o blog nos últimos dias tem percebido isso - a "defesa disfarçada" de determinada candidatura. Não há motivos para que um órgão da imprensa escrita use subterfúgios lingüisticos para defender o nome que acha mais próximo das teses que defende, inclusive uma opção partidária se for essa a opção do jornal ou da revista. Jornais e revistas não são concessões públicas. Isso é constitucional.

Não é isso que se vê, no caso de um dos maiores jornais do país, a Folha de S. Paulo. É uma publicação plural, reconhecida pela sua competência editorial e pela cobertura dos principais fatos jornalísticos do país, mas teima em fazer de conta que não tem candidato a um dos cargos mais importantes do país, a Presidência da Câmara. No processo sucessório da Câmara, a Folha tem ancorado a defesa do seu candidato - que o jornal entende ser necessário "ser contra o governo Lula" - de modo enviesado. Que seja direta, e não como vemos no editorial publicado na edição deste sábado (27), no qual Arlindo Chinaglia (PT) e Aldo Rebelo (PC do B) são tratados sempre como "governistas" e o tucano Gustavo Fruet como "independente" - quando até as pedras sabem o que está por trás da tal Terceira Via. Basta olhar os dois trechos abaixo, do editorial Um bom começo, para ver como a opção do jornal é tratada, embora teime em ser "indireta". Compare os modos de tratamento:

SOBRE CHINAGLIA E ALDO

"No debate realizado ontem no auditório da Folha, ambos tiveram, aliás, ocasião de despender alguns esforços de ginástica argumentativa em favor das atitudes que tiveram e que, agora, tratam de reavaliar."

SOBRE GUSTAVO FRUET

"Quanto ao deputado Fruet, defensor de reajustes salariais segundo a inflação, seu papel foi menos o de um "anticandidato", capaz de vocalizar toda a indignação pública com o comportamento de seus pares, e mais o de um postulante viável, ainda que independente do governo, ao cargo em jogo".

A propósito, não se trata aqui de dizer o que o jornal tem de fazer ou de deixar fazer, mas de cobrar, na pele de leitor e de observador político, uma postura mais clara nesse caso. E no caso em tela, inclui o livre direito de escolha e de defesa - DIRETA - desta ou daquela candidatura em editorial. Essa teimosia do uso de 'subterfúgios semânticos' quebra uma tradição da própria Folha, que não se furtou em defender suas teses em momentos cruciais para o país.

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