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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

"Quando eu morrer quero ficar"

Quando eu morrer quero ficar,
não contem aos meus amigos,
sepultado em minha cidade,
saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
no Paiçandu deixem meu sexo,
na Lopes Chaves a cabeça
esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
o meu coração paulistano:
um coração vivo e um defunto
bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
direito, o esquerdo nos Telégrafos,
quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
a língua no alto do Ipiranga
para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
o joelho na Universidade.
Saudade...

As mãos atirem por aí,
que desvivam como viveram,
as tripas atirem pro Diabo,
que o espírito será de Deus.
Adeus.

MARIO DE ANDRADE

Contribuição do leitor Ferrão

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