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terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Meu querido Déda!

O governador eleito do Estado de Sergipe, Marcelo Déda, por quem eu tenho o maior respeito e entendo que está entre os melhores quadros do PT, pronunciou uma frase que considerei muito infeliz. Vejam o que ele disse: "São Paulo já foi a cabeça do partido, hoje é o intestino". Esta expressão foi utilizada para defender uma suposta "despaulistização" do partido como forma de combater os erros cometidos por "alguns" em período recente.

Esta é uma crítica muito superficial, ainda mais feita por aqueles que estiveram no núcleo central do chamado "Campo Majoritário", que sempre deteve a hegemonia no Partido dos Trabalhadores. Pelo que me consta, o governador votou nos últimos presidentes do PT (Zé Dirceu, Genoino e Ricardo Berzoini). Tenho certeza que ele, pelo estatura política que tem, não votou obrigado. Déda - como carinhosamente costumamos chamá-lo - é bastante preparado e sempre soube o que é bom para o PT. A crítica ao núcleo paulista revela uma disputa interna daqueles que também têm responsabilidade pela crise.

Estou entre aqueles que entendem que o PT mudou. Hoje o partido ocupa o centro do poder e está consolidado em vários estados da federação. Dessa forma, essa realidade tem de se expressar também na composição de sua direção nacional.

No entanto, o fato de a Direção ser composta por representações de todos os estados da federação não é a garantia da elaboração de uma estratégia de poder, com políticas públicas e definições precisas de caminhos a serem percorridos pelo PT com vistas às mudanças estruturais que o Brasil precisa.

No fundo, o PT vive uma crise de elaboração política, apesar do governo Lula estar dando "certo" em várias áreas: democratizamos um pouco mais o acesso à educação, melhoramos a distribuição de renda no país, equilibramos as finanças públicas, a economia do país está estável e, é claro, precisa crescer mais. Todos temos consciência disso.

Entre outros acertos, estes fizeram com que o povo entendesse a necessidade do Lula conduzir o país por mais 4 anos. Porém, os desafios do PT não são apenas governar bem, obedecendo limites impostos pelas regras da correlação de forças existente na sociedade, que aliás, é desfavorável aos mais pobres. De nada adianta o Lula sair bem avaliado do governo, se isso não significar mais uma etapa de acúmulo de forças rumo ao nosso objetivo estratégico que é construir uma sociedade onde o desenvolvimento econômico possa, de fato, significar uma maior igualdade social, uma nação mais solídária, um povo mais desenvolvido e vivendo em paz; uma sociedade onde os meios de produção estejam a serviço da coletividade e não da esperteza de alguns.

Os governos passam, o partido continua. A tarefa de corrigir os erros, aperfeiçoar os nossos caminhos a serem percorridos rumo a uma nova sociedade, é tarefa de todos os petistas, paulistas, nordestinos, nortistas, ou seja, de todos os filiados do PT.

Responsabilizar os petistas paulistas pelos erros ocorridos não ajuda na construção de uma elaboração coletiva para superaração dos desafios que temos pela frente.

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