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segunda-feira, 30 de julho de 2007

Quando o feitiço se volta contra o feiticeiro

A saúde pública na capital de São Paulo tem sido pauta constante de todos os prefeitos que administraram e administram a cidade. Nas ultimas eleições, por exemplo, este tema esteve no centro dos debates - alguns analistas chegam a atribuir como o elemento principal da derrota da ex-prefeita Marta Suplicy no referido pleito. Na minha opinião, se não foi o elemento principal, está entre os fatores determinantes da derrota.

O atual governador Serra, quando candidato a prefeito, percebendo a importância do tema para a população mais pobre, tratou de colocá-lo no centro dos debates de uma forma muito oportunista. Ao invés de diagnosticar o problema, localizar todas as causas que ao longo dos anos contribuíram para piorar o sempre combalido sistema de saúde na cidade, preferiu politizar o problema, e fazer deste tema um mote para as ganhar as eleições. Para alcançar seus objetivos, fez promessas mirabolantes, do tipo: os pacientes vão receber remédios gratuitos em suas residências; as unidades básicas em seis meses não teriam mais filas e as consultas seriam marcadas por telefone; o aumento salarial seria certo para todos os funcionários da rede; todas as UBS (Unidade Básica de Saúde) teriam médicos especialistas; ampliariam os serviços de saúde da família; iriam entregar em pleno funcionamento os Hospitais de M'Boi Mirim e Cidades Tiradentes...

Muito pouco ou quase nada do que ele prometeu foi concretizado, pelo contrário, passados quase três anos de governo, o caos continua e começaram a proliferar denúncias dos próprios usuários, mesmo com alguns órgãos de imprensa querendo protegê-los, foram obrigados a denunciar os fatos, desmascarando a eficiente propaganda que tenta vender um modelo perfeito de saúde na cidade de São Paulo.

Recentemente, a própria Secretaria de Saúde fez uma auditoria e constatou que a fila de espera por exames médicos na rede de saúde pública da capital possui casos de pedidos feitos em 2003. A constatação foi relatada pela secretária municipal da Saúde, Maria Aparecida Orsini, em entrevista dada na semana passada.

O jornal Folha de S. Paulo publicou hoje (30) uma matéria na qual “a secretária diz que hoje o órgão trabalha com dois tipos de fila de espera. Uma é formada pelos pacientes que possuem encaminhamentos anteriores à implantação de sistemas informatizados nas unidades do município. Maria Aparecida afirma que os casos não atendidos desde 2003 estão entre esses usuários. Isso inclui as gestões Marta Suplicy (2001-2004) e Serra/Kassab (desde 2005). A outra fila é daqueles que tiveram suas solicitações já incluídas nas agendas informatizadas...”. Ou seja, estão assumindo a sua própria inoperância. Será que em quase três anos de governo eles não conseguiriam pelo menos amenizar o problema?

Enquanto isso veja o que diz uma usuária do sistema à mesma Folha de S. Paulo de hoje: “A dona-de-casa Valdete, 44, esteve na UBS do Imirim em março de 2006, quando seu médico solicitou um exame ultra-som. Ela, que preferiu não informar seu nome completo, só cumpriu o encaminhamento em maio deste ano. "Falaram para eu procurar um lugar que fosse baratinho, porque a marcação ia demorar." Como não tem condições de pagar, Valdete esperou a marcação da UBS. Ela conta que, após um ano, chegou a esquecer do exame. "E se fosse um câncer? Nesse um ano, a doença já teria se alastrado."

Todos sabem que não será em um toque de mágica que vamos resolver o problema da saúde pública na cidade de São Paulo. O PSDB, em particular, desde as eleições sabia da complexidade deste tema, bem como as dificuldades para encontrar soluções com resultados rápidos. No entanto, preferiram o discurso fácil, eleitoreiro e irresponsável. Deu no que deu! O povo começa e perceber e eles próprios são obrigados a reconhecer que as medidas adotadas até agora foram incapazes de, ao menos, amenizar o problema.

Espero sinceramente que a saúde pública melhore ainda neste governo. Como vereador da cidade e morador da periferia, tenho visitado as Unidades Básicas de Saúde e tenho presenciado o sofrimento dos pacientes. Não medirei esforços, mesmo sendo um vereador de oposição, de procurar caminhos para ajudar na solução deste grave problema. Quero diminuir o sofrimento deste povo que tanto precisa de um serviço público de saúde mais decente.

Um comentário:

  1. Solidarizo-me com a senhora Valdete. Resido na região da Vila Nova Cachoeirinha, próximo do Imirim e as reclamações das UBS´s e das AMA´s (meninas dos olhos do Kassab) - imagine se não fosse - da região são imensas, sem falar na falta de especialistas que é uma constante. Já que o assunto é saúde, julgo ser oportuno mencionar o Hospital da Vila Nova Cachoeirinha, administrado pelo governo do estado. Esse hospital atende todas as demandas da região e dos bairros do entorno, portanto, deveria ser referência. Entretanto, faltam médicos, enfermeiras, materiais básicos de primeiros socorros, equipamentos para exames variados, entre outras coisas. Para se ter uma idéia, nem a bobina para a realização do exame de eletrocardiograma há no Cachoeirinha. Só tem uma sala de raios-X, os usuários reclamam porque as emergências e os pedidos de exames são todos atendidos no mesmo lugar. Pergunto eu, quem será que sofre mais na espera, os paciente da emergência ou os que precisam fazer seus exames? Isso é um absurdo! É um verdadeiro descaso com a população! Cadê o modelo perfeito de saúde em São Paulo?

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