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domingo, 29 de janeiro de 2012

Uma bela canção do Chico para ouvir e decifrar


Chico Buarque se destacou no mundo da música pela incrível capacidade de traduzir em poesias situações empíricas relevantes, que se impõem para além do mundo das idéias, forçando reflexões, e porque não dizer, novos conceitos a respeito do certo e do errado, do justo e do injusto, do bem e do mal. "Umas e Outras" está entre as preciosidades poéticas de Chico Buarque de Holanda. Sua letra parte de dois personagens com modos de vida opostos: sugere ser uma pessoa religiosa (uma freira, por exemplo) e uma prostituta.

Nos traços comparativos dos dois personagens, uma projeta na metafísica um paraíso vistoso e cheio de glórias, a sua felicidade. Mas, atento para a realidade, o seu móvel é a “certeza” de uma recompensa das agruras da vida com uma vida eterna confortável no paraíso do senhor. Já a outra, sem nenhuma expectativa do paraíso, busca encarar a amargura, o desgosto e os dissabores da vida encarando o mundo real na busca de sua felicidade. Porém, como diz a canção, “acaso faz com que essas duas, que a sorte sempre separou, se cruzem pela mesma rua, olhando-se com a mesma dor".

Linda! Está entre as melhores canções do Chico. Vale a pena ouvi-la e decifrá-la.

Chico Buarque - Umas e Outras


Umas e Outras (Chico Buarque de Olanda)

Se uma nunca tem sorriso
É pra melhor se reservar
E diz que espera o paraíso
E a hora de desabafar
A vida é feita de um rosário
Que custa tanto a se acabar
Por isso às vezes ela pára
E senta um pouco pra chorar
Que dia! Nossa, pra que tanta conta
Já perdi a conta de tanto rezar

Se a outra não tem paraíso
Não dá muita importância, não
Pois já forjou o seu sorriso
E fez do mesmo profissão
A vida é sempre aquela dança
Onde não se escolhe o par
Por isso às vezes ela cansa
E senta um pouco pra chorar
Que dia! Puxa, que vida danada
Tem tanta calçada pra se caminhar

Mas toda santa madrugada
Quando uma já sonhou com Deus
E a outra, triste enamorada
Coitada, já deitou com os seus
O acaso faz com que essas duas
Que a sorte sempre separou
Se cruzem pela mesma rua
Olhando-se com a mesma dor
Que dia! Nossa, pra que tanta conta
Já perdi a conta de tanto rezar
Que dia! Puxa, que vida danada
Tem tanta calçada pra se caminhar
Que dia! Cruzes, que vida comprida
Pra que tanta vida pra gente desanimar

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