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segunda-feira, 23 de abril de 2007

A tradição na mira do autoritarismo


Falei aqui, cerca dois meses atrás, da indignação de ativistas culturais da região de São Miguel Paulista, na Zona Leste, com a condução da 'reforma' da Praça do Forró - principal referência do maior bairro nordestino do país. Hoje (23) os jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde publicam a excelente reportagem de Gilberto Amendola cujos títulos - Prefeitura proíbe forró para preservar capela (Estadão) e Vetada a Praça do Forró (JT) - revelam o caráter autoritário da administração Serra/Kassab.

A prefeitura gastou R$ 1,6 milhão numa obra que alterou radicalmente a arquitetura original da Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, a tradicional Praça do Forró. Essa denominação popular se deve à forte presença da cultura nordestina em São Miguel, e que estava representada por um palco no formato de um chapéu de couro. O palco, as colunas e a fonte foram derrubados, sendo substituídos por uma arquitetura árida, com predomínio de bancos. Nada de novo foi acrescentado e tudo o que existia antes foi varrido.

A ação da Subprefeitura de São Miguel foi repelida por moradores antigos, que freqüentam o local há décadas - muitas décadas antes de Décio Ventura, ex-prefeito de Ilha Comprida, imaginar que seria 'importado' para o cargo de subprefeito local. Num trecho da reportagem do JT e do Estadão, a indignação popular é direta. Veja a reação de uma antiga liderança cultural da região à mudança que varreu as características originais daquele espaço:

"O presidente da Associação Amigos da Praça do Forró, o sanfoneiro Cícero do Norte, 69 anos, não se agüenta de tanta tristeza.

A praça foi seu espaço de reunião e música desde 1965. 'Quiseram humilhar a gente. Mas eu tenho sangue nordestino. Não desisto. O bairro é nordestino, não foi justo. Foi preconceito da Prefeitura. As pessoas vão continuar chamando esse lugar de Praça do Forró', disse o presidente.".

Eu também fui ouvido pela reportagem e me posicionei com a seguinte avaliação: "Eles acabaram com uma tradição sem consultar a população. Deixaram a praça sem identidade".

Resumindo: esse é o resultado dessa política desastrosa de loteamento político das subprefeituras, que trouxe pessoas sem qualquer vínculo com a região e com a história dessas comunidades. E, em alguns casos, com ranço autoritário e atitudes claramente preconceituosas.

O azar deles é que não se apaga uma tradição por decreto!

Um comentário:

  1. Isso é o que dá, trazer Subprefeito de outras cidades para administrar a nossa. Esse é mais um planejamento dos tucanos.

    Vereador, continuo dizendo que é caso de pedido de CPI, pois, na Paraça do Forro não foi gasto R$ 1.600,000,00 (um milhão e seiscentos mil reais) nem aqui, nem no nordeste.

    Henrique - São Paulo

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