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domingo, 10 de junho de 2007

O visionário Patativa do Assaré


Ele nasceu Antônio Gonçalves da Silva, mas ficou conhecido como Patativa do Assaré. Representou a expressão mais completa da poesia carregada com o cheiro e a cor da terra nordestina. A crítica ao abandono era uma das características da sua obra, como essa que retrata a situação de muitas cidades brasileiras - daquelas que parecem não constar no mapa às metrópoles.

Prefeitura sem prefeito

Por Patativa do Assaré

Nessa vida atroz e dura
Tudo pode acontecer
Muito breve há de se ver
Prefeito sem prefeitura;
Vejo que alguém me censura
E não fica satisfeito
Porém, eu ando sem jeito,
Sem esperança e sem fé,
Por ver no meu Assaré
Prefeitura sem prefeito.

Por não ter literatura,
Nunca pude discernir
Se poderá existir
Prefeito sem prefeitura.
Porém, mesmo sem leitura,
Sem nenhum curso ter feito,
Eu conheço do direito
E sem lição de ninguém
Descobri onde é que tem
Prefeitura sem prefeito.

Ainda que alguém me diga
Que viu um mudo falando
Um elefante dançando
No lombo de uma formiga,
Não me causará intriga,
Escutarei com respeito,
Não mentiu este sujeito.
Muito mais barbaridade
É haver numa cidade
Prefeitura sem prefeito.

Não vou teimar com quem diz
Que viu ferro dar azeite,
Um avestruz dando leite
E pedra criar raiz,
Ema apanhar de perdiz
Um rio fora do leito,
Um aleijão sem defeito
E um morto declarar guerra,
Porque vejo em minha terra
Prefeitura sem prefeito.

De Patativa do Assaré, Antologia Poética, Edições Demócrito Rocha, 2004.

3 comentários:

  1. Olha, não sei se isso foi uma referência direta ao governo de São Paulo (Prefeitura), mas imagino que seja. Se foi, parabéns pela escolha!

    Abraço!

    Armando

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  2. Parece que esse cara tinha bola de cristal! Nenhum poema se encaixa tão bem na situação de São Paulo do que esse que foi publicado!

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  3. Dediquei um poema meu ao Genial Patativa que se chama "Petulância" vocês podem ouvir em http://www.charlesvalente.com/

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