Do jornal Folha de São Paulo hoje (23)
”São Paulo vai perder uma das últimas manchas verdes de sua área urbana. Dois terrenos vizinhos no Alto da Boa Vista, área nobre de Santo Amaro (zona sul), que juntos formam um bosque de 149,4 mil m2 -equivalente a 21 campos de futebol ou três vezes o parque Trianon, na Paulista serão loteados para a construção de casas de alto padrão.
Para remover 1.560 árvores do local, os donos do terreno fecharam um acordo com a prefeitura por meio de TCAs (Termos de Compensação Ambiental), comprometendo-se a manter parte das plantas e replantar outra parte em pontos espalhados pela cidade. Esse tipo de acordo é cada vez mais freqüente -em 2007 foram assinados 195 TCAs, 343% mais do que em 2005.
O número de desmatamentos autorizados pela Prefeitura de São Paulo mais do que quadruplicou em dois anos. Em 2005, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente emitiu 44 TCAs (Termos de Compensação Ambiental) para empresas interessadas em construir em áreas arborizadas. No ano passado, foram 195 -aumento de 343%.
As conseqüências do desaparecimento de manchas verdes significam aumento da temperatura, diminuição da umidade do ar e mais alagamentos.
A impermeabilização do solo é a principal preocupação do professor do Departamento de Ciências Atmosféricas da USP, Augusto José Pereira Filho. "Todo mundo vê as enchentes cada vez mais freqüentes", comenta. "Não é por acaso." Ele continua: "Cada árvore na área urbana faz falta. Não adianta compensar em outro lugar".
No caso dos terrenos do Alto da Boa Vista, ele diz que o impacto deve ser localizado. "Deve haver um pequeno aumento na temperatura e diminuição da umidade do ar em mais ou menos um raio de 2 km. Como se trata de um lugar bastante alto, uma região maior pode sentir a diferença de calor."
Comentário: O prefeito Gilberto Kassab está na contramão da humanidade ao permitir a destruição do pouco verde que ainda existe na cidade de São Paulo. No caso em tela, é inadmissível que o prefeito permita a destruição de áreas verdes em troca de uma tal “compensação” ambiental dispersa, fragmentada, que pouco reverterá em qualidade de vida para o povo paulistano.
A nossa cidade precisa de mais áreas verdes, de preferência que estas áreas sejam transformadas em áreas de uso comum (parques).
É preciso também, aumentar a permeabilidade do solo como forma de ajudar a combater as enchentes. Além de preservar o que temos de áreas verdes é preciso evitar a ocupação dos fundos de vale e, para futuro, pensar até em desocupar alguns que formam bacias estratégicas e transformá-los em Parque Lineares como forma de ampliar o verde e ao mesmo tempo aumentar as áreas permeáveis.
São Paulo sofre hoje as conseqüências históricas de um processo de crescimento desordenado onde o planejamento cedeu lugar aos interesses imobiliários. Caso o poder público não intervenha com determinação para impedir que o mercado imobiliário continue ditando as regras do nosso desenvolvimento, o dinamismo da indústria da construção civil propiciado pela política econômica do governo Lula pode acarretar conseqüências ainda maiores para o futuro de São Paulo.
Chegou a hora do prefeito começar a aplicar as regras do Plano Diretor Estratégico como forma de projetar um crescimento mais ordenado da cidade e garantir que os interesses da coletividade comandem o futuro dos paulistanos.
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