Em entrevista à Folha, Niemeyer critica o exibicionismo das construções atuais, diz admirar as obras de Frank O. Gehry e Santiago Calatrava e defende o terceiro mandato para o presidente Lula
FOLHA - O sr. imaginava que chegaria aos cem anos? Quais as vantagens e desvantagens de viver tanto tempo?
OSCAR NIEMEYER - Não. Meu balanço dessa trajetória é realista. Não sou pessimista, mas sim realista. Não quero me fazer incômodo e falar da vida com o desprezo que ela merece.
Lembrar a miséria, a violência, que crescem por toda parte, e esse futuro sem solução que o destino nos impõe. Prefiro pensar que um dia a vida será mais justa, que os homens não se olharão a procurar defeitos uns nos outros, como tantas vezes acontece. Que, ao contrário, haverá sempre a idéia de que em todos há um lado bom, uma dada qualidade a destacar (Lênin dizia que 10% de qualidades já seriam suficientes).
Nesse dia, será com prazer que um procurará ajudar o outro. É a solidariedade -que ainda não existe, de um modo geral- a prevalecer.
FOLHA - Em que o Brasil de hoje difere daquele que o sr. imaginava quando tinha, digamos, 30 anos?
NIEMEYER - Trata-se de um Brasil que talvez esteja mais consciente da urgência de se combaterem, com maior vigor, as mais graves disparidades sociais.
FOLHA - O que o surpreende na arquitetura hoje?
NIEMEYER - O que me espanta, isso em termos negativos, é um certo gosto de exibição de materiais construtivos mais caros.
FOLHA - Que avaliação faz da possibilidade de um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva? O sr. é favorável à tese?
NIEMEYER - Eu sou, porque o governo dele tem se mostrado a favor do povo, contra a miséria, a violência e, principalmente, contra o intervencionismo norte-americano neste país.
FOLHA - Já temos presidentes do sexo feminino no Chile e na Argentina. Nos EUA, Hillary Clinton está cotada para a Presidência. No Brasil, Dilma Rousseff é citada como possível candidata à sucessão de Lula. O que o sr. acha da presença cada vez maior da mulher em cargos do Executivo?
NIEMEYER - Julgo perfeitamente natural e justo que a mulher esteja à frente de qualquer governo. Não deve haver nenhum tipo de discriminação.
A entrevista completa está no caderno +MAIS da Folha de São Paulo deste domingo.
O maior arquiteto de todos os tempos do Brasil e um dos mais aclamados do mundo realmente mostra também que tem sensibilidade política. Finalmente a Folha publicou algo de conteúdo saudavel depois de tanto malhar o governo Lula. Parabéns ao blog pela escolha do título e pela reprodução da matéria.
ResponderExcluirAbraço
Armando
Esse Niemeyer não poderia dizer outras coisas, pois é um cara coerente com a sua história e a história do Brasil. Parabéns pelos 100 anos tão lúcidos!!!
ResponderExcluirGostei! Simplesmente disse tudo!!!
ResponderExcluirEngraçado: esse foi o comunista mais independente de todos os comunistas que já conheci até hoje.rsrsrsrs
ResponderExcluirUm arquiteto e um político de expressão, tudo junto. Parabéns ao Niemeyer!!!
ResponderExcluirOlha, se eu tivesse a idade dele e tivesse a grana que ele ganhou, também pensaria assim. Mas vale pelo menos respeitar a coerência do grande arquiteto brasileiro.
ResponderExcluirNiemeyer é tudo de bom em matéria de arquitetura e tudo de correto em matéria de política, num Brasil tão marcado por incoerências...
ResponderExcluirQuem bom é observar que um cara chega aos 100 anos no Brasil e não entrega os pontos.
ResponderExcluirEle é um marco na história da arquitetura brasileira...
ResponderExcluirA lição do Niemeyer deveria ser refletida por todos os jornalistas brasileiros. Afinal, a posição desses flutua muito ao sabor do momento...
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