E agora José?
Recebi de Devanir Amâncio, coordenador da ONG Educa São Paulo, cópia de um abaixo-assinado que será entregue ao governador José Serra na próxima segunda-feira (28) no Palácio dos Bandeirantes. Certamente o governador não pensou nisso antes: índios da região de Parelheiros, no extremo da zona sul da Capital, pedem que o Estado oficialize, previamente, a doação às aldeias de um "percentual" dos recursos a serem arrecadados com o pedágio a ser cobrado dos usuários do futuro trecho sul do Rodoanel.
Amâncio informa que cópias do documento serão entregues no mesmo dia a representantes do Ministério Público Federal e do Ministério Público Estadual.
Veja abaixo o texto do abaixo-assinado encabeçado pelas aldeias Tenode Porã, Krukutu, Teloa Pyau e Pankaruru:
Índio quer participação em pedágio
Exmo. Sr. JOSÉ SERRA - Governador do Estado de São Paulo
"Nós, abaixo-assinados, integrantes das comunidades indígenas, índios das aldeias Krukutu e Tenonde Porã, localizadas nos confins da região de Parelheiros, nos dirigimos a todas às autoridades do Município e do Estado de São Paulo, bem representadas por V. Exa., no sentido de reivindicar uma compensação justa pela passagem do trecho Sul do Rodoanel Paulistano sobre nossa pequena e inalienável reserva. Esta compensação se traduziria em percentual, a ser definido, na arrecadação de eventuais praças de pedágio a serem instaladas na grande obra ora em andamento. Entendemos ser oportuna e necessária a fixação prévia e oficial de tais cotas pecuniárias para garantir desde um direito que é essencial à nossa sobrevivência como povo.
Não é segredo para ninguém que, há anos, os povos indígenas têm enfrentado uma vida sofrida em aldeias situadas na periferia extrema das grandes cidades brasileiras. O problema torna-se mais agudo e até insuportável em um conglomerado urbano de proporções gigantescas e complexas como a Grande São Paulo.
Também é do conhecimento de todos que temos mantido nossa língua, hábitos e costumes através de uma resistência cultural que muito nos honra, mas que produz extremo desgaste pelas características da luta. Somos vizinhos de uma sociedade urbana, volumosa e bizarra que asfixia nossa cultura.
Estamos impedidos de sobreviver da caça, da pesca, e da coleta, pois nossas aldeias estão assentadas em áreas de solos degradados, por ironia, próximas da área de Proteção Integrada Capivari-Monos.
Portanto, dependemos de uma pequena produção de artefatos indígenas, aliás, pouco valorizado. O que arrecadamos é muito pouco, mesmo com a presença de muitas pessoas do mundo urbano que nos visitam e se deleitam com nossos falares, cantos e música. Quando elas vão embora, recaímos em uma solidão cotidiana lamentável, que afeta nossa disposição de prosseguir na luta. As carências se avolumam e produzem um sério desequilíbrio no contacto com meninos e meninas que vivem além dos limites de nossas aldeias. Por isso tememos, justificadamente, pelo futuro dos nossos adolescentes que começam a compreender o mundo dos vizinhos e a comparar com o seu, não só pelo seu bem-estar material, mas também pelo nosso triste modo de vida. Não por acaso, nossos filhos, para garantir sobrevivência e inclusão social futuras, têm que se sujeitar ao aprendizado bilíngüe que envolve o Tupi-Guarani e o Português, fato que, dentro do atual contexto, já os coloca em ambigüidade.
Alguém nos informou que somos um tipo de aldeias étnicas peri-urbanas metropolitanas. E daí? Essa classificação poucos nos protege e contribui para um contacto equilibrado e saudável com o mundo urbano.
Informamos que, atendido o nosso pleito, fazemos questão que os gastos com dinheiro repassado para as aldeias sejam auditados por autoridades competentes, sensíveis e não-partidárias. Os recursos recebidos deverão servir a todos os membros das comunidades indígenas aldeiadas nas periferias da Grande São Paulo.
Não queremos conflitos sobre esta questão, mas envidaremos todos os recursos jurídicos para que nossa proposta seja vitoriosa.
Esclarecemos que temos consciência da condição de herdeiros de populações pré-históricas algumas das quais estavam em Piratininga antes do início da colonização portuguesa".
Comentário: Fiquei curioso para saber o que o governador pensa sobre isso! E você, leitor?
Já que o governador não respeita as poucas terras dos Índios que ainda existentem naquela região, é mais do que justo que as tribos reivindiquem seu quinhão dos pedágios ali instalados.
ResponderExcluirE agora José?
Eu vou querer também que paguem pelas rodovias que chegam a Osasco, pelos motéis da região e por outras coisas que eu considero que mexem com meus direitos e ouvidos. Os índios estão certíssimos!
ResponderExcluirAbraço!
Armando
Coitados deles: os tucanos não pagam nem as indenizações pelas mortes ocorridas no metrô que desabou, imagina essa coisa aí de rodovia que passa em terra de índio...
ResponderExcluirAna
Vige, até isso eles querem? Agora virou moda desde os tempos do "índio" quer apito.
ResponderExcluirPedágio, pedágio, pedágio. Desse jeito vou pensar que esses índios todos viraram tucanos, ora!!!!
ResponderExcluirEu concordo com a idéia!
ResponderExcluirEu adoraria ver o MPF e o MPE colocando o Serra pra pagar o que deve aos aposentados, servidores do estado e outras categorias que não recebem aumento desde que o Covas entrou no governo, em 95.
ResponderExcluirGostei do bonequinho, ele é a cara do Sera.
ResponderExcluirEstive na Aldeia Tenode Por� em 19 de maio de 2008. Fui com o meu grupo da faculdade pra realizar um trabalho sobre Educa�o Ind�gena.
ResponderExcluirE uma frase da monitora M�nica me preocupou muito: "Agora o nosso instrumento de ca�a e de pesca � o dinheiro. Trabalhamos, vendemos artesanato e ca�amos e pescamos no mercado"
Inteligentes, o rodoanel tem que trazer mais do que descomplica�o do tr�nsito e acessibilidade ao com�rcio tem que ser respos�vel social pelas aldeias ind�genas!
C� pra n�s, nunca tinha assemelhado o Sr. Burns ao Serra, mas olhando assim ... s�o no m�nimo parentes!