Iniciamos hoje (26) a publicação da quarta parte da série Símbolos e Lugares de São Paulo. A pesquisa de Felipe Ramalho Rocha desta vez é sobre a Estação da Luz, por sua importância histórica e arquitetônica para a Capital. O local sedia o Museu da Língua Portuguesa, mas não perdeu o charme de estação de trens que continua a funcionar normalmente.
DA FORÇA DA COMPANHIA INGLESA À LÍNGUA PORTUGUESA
A primeira Estação da Luz, primeira estrada de ferro construída em solo paulista, idealizada pelo barão de Mauá e construída em 1867 pela The São Paulo Railway - SPR (popularmente "Inglesa"), que fazia a linha entre Jundiaí e Santos, de onde o café era exportado, era pequena e acanhada. Sem conseguir atender à crescente demanda da produção cafeeira, a SPR,em 1895, decide construir outra estação no mesmo lugar, muito mais imponente. Projetada pelo arquiteto inglês Charles Henry Driver em estilo neoclássico.
Os materiais da construção foram todos importados. "A Estação da Luz veio pelo Oceano Atlântico desmontada. Peça por peça viajou de navio: pregos, tijolos, madeira (pinho-de-riga irlandês), telhas cerâmicas de Marselha, França, e a estrutura de aço de Glasgow, Escócia. Material suficiente para cobrir uma área de 7.520 metros quadrados, ao custo de 150 mil libras esterlinas”. A estrutura metálica tinha 150 metros de comprimento. O edifício tinha 150 metros de comprimento de fachada com uma torre de 50 metros de altura sendo a principal prova da importância e do desenvolvimento que a cultura do café trouxe não só para a cidade como para o Estado.
Aberta ao público em 1º de março de 1901, o novo marco da cidade acaba se tornando a sala de visita de São Paulo. Todas as personalidades ilustres que tinham a capital como destino eram obrigadas a desembarcar lá. Empresários, intelectuais, políticos, diplomatas e reis foram recepcionados em seu saguão e por lá passavam ao se despedir. O lugar também era freqüentado pela gente importante de São Paulo, onde podia-se comer no restaurante Vagliengo, cuja comida era muito apreciada.
A importância da São Paulo Railway Station, como era oficialmente conhecida, durou até o fim da Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Após este período, o transporte ferroviário foi sendo substituído por aviões, ônibus e carros.
Em 1946 a Estação sofre um incêndio criminoso, dois dias antes da entrega da SPR pelos ingleses ao Governo da União. O fogo ardeu por mais de sete horas, só restando a gare e a ala oeste. Em 1947, a SPR é nacionalizada com o nome de Estrada de Ferro Santos-Jundiaí - EFSJ. Até 1951, são feitas as obras de reconstrução da estação atingida pelo incêndio. O edifício ganha mais um pavimento e uma plataforma central para o uso do trem metropolitano.
A decadência no ciclo ferroviário faz com que inúmeros ramais sejam desativados. O processo de degradação do transporte ferroviário no Brasil acaba levando a Estação a igualmente degradar-se. O Vagliengo deixa de ser restaurante em 1973 para virar lanchonete e dez anos depois é fechado por conta das reclamações dos passageiros e funcionários da Rede Ferroviária. Mendigos e prostitutas agora eram os freqüentadores do local.
Em 1982 o complexo arquitetônico de 1901 é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico (Condephaat) e em 1996, a Estação passa a ser patrimônio nacional. Para preservar um pouco este patrimônio, a prefeitura remove as prostitutas e os mendigos. Desde o final de 1996, os então ainda existentes trens de passageiros deixaram de sair dali, sendo transferidos para a estação da Barra Funda.
A Luz, então, passa a ser apenas uma estação dos trens metropolitanos da CPTM. Não muito bem cuidada, diga-se de passagem. Com Infiltrações e corrosões do metal de sua estrutura olhados com preocupação. Em 2004, coincidindo com os 450 anos da cidade de São Paulo, a estação da Luz é entregue restaurada, tanto em sua arquitetura, quanto em suas plataformas, agora readaptadas para os atuais trens metropolitanos. Em 2006, é inaugurado o Museu da Língua Portuguesa, inaugurando também uma nova fase para a estação.
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