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quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sobre o "Fura-fila"

Editorial do jornal O Estado de S. Paulo, hoje (23):

O custo do Fura-fila

"Há três meses, ao inaugurar a primeira etapa do corredor de ônibus Expresso Tiradentes, o então secretário municipal de Transportes, Frederico Bussinger, comparou o ato ao “momento de dar o sopro de vida ao boneco de barro”. O sopro custou R$ 861 milhões aos governos municipal, estadual e federal, e o boneco deu apenas um fraco e frustrante sinal de vida.

Planejado para ser um mirabolante anel de 70 quilômetros ao redor do centro de São Paulo, por onde circulariam, em calhas suspensas, veículos ultramodernos ao custo de apenas R$ 146 milhões, o sistema entregue ao público tem apenas 8 quilômetros de corredores exclusivos construídos sobre pilotis de 15 metros, por onde rodam ônibus idênticos aos demais da frota paulistana a uma velocidade que não pode superar os 40 km/h, por questões de segurança, enquanto nos corredores normais os veículos trafegam a 50 km/h. Há dez anos estimava-se que o Fura-Fila transportaria 70 mil passageiros diários; hoje se constata que sua capacidade não passa de modestos 41 mil.

A Prefeitura estima que serão necessários mais R$ 600 milhões para estender o corredor - que hoje liga o Terminal Mercado, no centro, ao Terminal Sacomã, na zona sul - até a populosa e carente Cidade Tiradentes, na zona leste. Esse trajeto de 32 quilômetros poderia atender cerca de 350 mil passageiros por dia, conforme previsões dos técnicos da administração municipal.

O prefeito Gilberto Kassab quer inaugurar o novo trecho ainda neste ano, mas o secretário de Transportes, Alexandre Moraes, planeja o término da obra para 2009. Segundo Kassab, “a obra mais cara é a obra parada”. É verdade, desde que seja uma obra necessária para a cidade. Estudos sobre o transporte público na cidade mostram que há pelo menos seis grandes gargalos no sistema. Esses nós poderiam ser desfeitos com a construção de simples corredores exclusivos, com custo muito inferior ao do Expresso Tiradentes e melhores resultados para a população. O melhor, portanto, seria que o prefeito não furasse a fila dos projetos verdadeiramente importantes para São Paulo". Leia mais.

Meu comentário: Esta é uma polêmica que persiste desde o início deste projeto. Aquilo que foi uma peça de marketing do Maluf para eleger o Pitta como seu sucessor virou um problema para as futuras administrações da cidade. Quando a atual ministra Marta Suplicy assumiu a prefeitura chegou-se à conclusão que demolir o que já estava feito era mais caro do que dar continuidade ao trecho da obra iniciado pelo prefeito anterior. Porém, diante da demanda apresentada - limitar o projeto ao trecho já concluído que vai do Mercado Municipal até o Sacomã - não justicaria os seus custos, então concluiu-se pela reformulação do projeto. Os estudos encomendados pela ex-prefeita aos técnicos da área apontaram para tranformar o antigo Fura-fila em um "corredor exclusivo" com o objetivo de atender toda uma região que não é servida pelo sistema de Metrô. Foi aí que surgiu o chamado Paulistão que o Serra mudou o nome para Expresso Tiradentes.

A carência de um transporte coletivo de qualidade que atenda os bairros de Vila Prudente, Sapopemba, São Mateus, Iguatemi e Cidade Tiradentes é pública e notória. Os bairros citados são atendidos apenas pelo sistema de ônibus e vans. Não existe por parte do governo do Estado nenhuma previsão, a médio prazo, para estender a linha 2 do Metrô para toda essa região. O único projeto de curto prazo existente é o chamado Expresso tiradentes. Portanto, a administração da cidade não pode conviver com o dilema de ter que optar entre o sistema atual oferecendo um serviço de péssima qualidade ou esperar décadas até que sejam criadas as condições para viabilizar uma linha de Metrô para atender milhões de habitantes desta região da cidade.

O Corredor exclusivo (Expresso Tiradentes) é única solução viável no curto prazo capaz de qualificar um pouco mais o transporte público dos bairros que compõem a chamada Zona Leste-l de São Paulo. Sua população não agüenta esperar "30 anos ou mais" para usufruir de um sistema de transporte público decente.

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