Do blog de Rodrigo Vianna:
Tenho 20 anos de Jornalismo. Quase todos na rua, como repórter. E nunca vi algo parecido com o que se passou a poucos metros do Palácio dos Bandeirantes.
Estava na redação da TV Record quando as primeiras imagens apareceram na TV. Chefes de Reportagem (alguns com ainda mais experiência que eu no Jornalismo) pareciam catatônicos: o que é isso? no Estado mais rico (?) do país, a barbárie fardada!
Que nome você, leitor, daria para um confronto armado entre Polícia Civil e Polícia Militar?
"Caos na segurança" seria o mínimo, não?
Ou, ao menos, "crise na polícia".
Os jornalistas dão o nome de "chapéu" àqueles títulos colocados no alto da página, e que em coberturas especiais se repetem, pra marcar o noticiário. Você já deve ter visto nos jornais... Dois anos atrás, durante meses, fomos bombardeados com páginas e mais páginas na imprensa sobre o "caos aéreo". O "chapéu" estava ali, a marcar e editorializar a cobertura sobre as falhas no sistema aéreo basileiro
Pergunto: o que é mais grave, atraso em vôos ou polícia em greve?
Mas, abro a "Folha" hoje e não encontro o "chapéu" para o noticiário sobre o "caos na segurança".
As informações estão ali - com mapas, fotos, declarações.
Mas, é evidente o tratamento vip dado ao governo tucanos por nossa imprensa.
Imagine se algo parecido tivesse acontecido num governo do PT, PCdoB, ou nos bons tempos de Brizola/PDT no Rio?
Qual seria a manchete? Qual seriam os "chapéus" estampados no alto das páginas?
"Estado sem lei", "Barbárie armada"...
(eu poderia inventar vários, porque durante um ano esse foi meu serviço , como redator do caderno "Cotidano" da "Folha", o início dos anos 90)!
Essa falta de "combatividade" (!) da imprensa escrita com o governo tucano talvez explique porque o tom político na cobertura tenha partido de onde menos se esperava: ontem, era Datena, na "Band", quem cobrava uma palavra do governador!
Cobrava daquele jeito dele, mas cobrava. É o que se espera dos jornalistas numa hora dessas.
Por que Datena pode cobrar e a "Folha" não pode?
O maior jornal do país trata José Serra como se ele ainda fosse o editorialista levado para trabalhar na Barão de Limeira pelo seu Frias, nos anos 80.
Serra é da casa, né?
Serra não pode ser cobrado.
Ninguém bota "chapéu" no Serra!
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