São Paulo vive um paradoxo: se por um lado parcelas de seu povo estiveram na vanguarda de todas as mudanças culturais que revolucionaram comportamentos no Brasil, por outro lado temos de conviver com parcelas que carregam consigo uma dose exagerada de conservadorismo. Este contraditório esteve presente em todos os momentos da história recente do povo paulistano.
Esta cidade foi palco de importantes manifestações operárias e estudantis que de forma destemida e sem titubeios resistiam ao autoritarismo e combatiam por liberdades. Mas também foi aqui que setores da sociedade organizaram a “Marcha da Família com Deus”, numa espécie de desejo de “boas-vindas” aos ditadores.
É verdade que nesta cidade e em outras vizinhas se concentraram e se concentram os maiores e mais organizados sindicatos operários, símbolos da resistência à ditadura militar. Porém, aqui também se concentravam as principais entidades patronais e operárias, na época, o principal esteio de sustentação do regime autoritário.
Aqui, todos os anos, milhões de cidadãos vão às ruas e expressam sua indignação contra os preconceitos em relação às suas opções sexuais. Todavia, é nesta cidade que setores cristãos conservadores organizam a chamada “Marcha com Jesus”. Esta, surgida como contraponto àquela dos setores intitulados GLBTs.
O povo desta cidade é capaz de eleger uma prefeita mulher, nordestina e petista em 1988, símbolo da ascensão do movimento de esquerda, mas na eleição seguinte elegeu Maluf, símbolo do conservadorismo, homem claramente identificado com o regime militar. São Paulo é uma cidade com características bastante peculiares, de comportamento complexo, às vezes, contraditórios.
É neste contexto que ocorrem as eleições no próximo domingo. Independente do resultado, os elementos que temos indicam uma necessária reflexão da esquerda para responder a seguinte indagação: como construir uma hegemonia duradoura em uma cidade marcada, historicamente, por movimentos pendulares e até contraditórios que têm sido a marca da nossa gente?
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