Alçado por parte da mídia à condição de Endireitador-Geral da República durante a chamada crise política de 2005 e ainda mais no processo eleitoral de 2006, o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) viu-se enredado numa trama de preconceitos a partir de uma frase contra a população brasiliense, dita em entrevista a ser publicada mês que vem - e que acabou sendo pinçada pela revista Veja do final de semana. Ele disse que na noite da capital federal só há "prostitutas, lobistas e deputados".
Eis um dos males da empolgação de Gabeira, que no passado foi considerado por muitos como um dos ícones da esquerda brasileira. Assediado por setores da imprensa e quase sempre apresentado como "novidade e renovação" - quando não como uma espécie de "senhor ética" -, o parlamentar deu a entender ter perdido a capacidade de distinguir o que é ser de oposição daquilo que caracteriza os interesses dos grupos que agiram (e agem) açodadamente contra o governo Lula e o PT. Daí em diante virou capa e figura carimbada na mídia nacional e do eixo sul-sudeste.
Ao acordar para o resultado maléfico da empolgação de "falador-geral" contra tudo e contra todos, o experiente jornalista e escritor deu com os burros n'água e foi obrigado a voltar atrás depois sentir a reação irada da população do Distrito Federal.
Certamente não foram as constantes companhias tucanas e pefelistas que fizeram o deputado perder a noção do que saía dizendo por aí. Também não foi a falta de experiência no trato com a mídia ou a linguagem, já que tem formação e 'tempo de janela' de sobra para lidar com o assunto.
Fica a impressão de que isso é resultado da empolgação com a aparição excessiva na mídia ou, talvez, uma transformação pela qual o ex-guerrilheiro passa nessa quadra da vida. O tempo dirá.
Por enquanto, desculpas e a promessa de um livro são as maneiras que ele achou para tentar corrigir o preconceito que verbalizou na tal entrevista, justo ele que outrora esteve nas fileiras dos que combatiam os preconceitos arraigados na sociedade brasileira.