O companheiro e deputado federal Cândido Vaccarezza (PT) avalia o cenário político nacional e a situação do PT após a eleição de Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara dos Deputados em entrevista concedida à Folha de S. Paulo deste domingo (4). Vaccarezza falou aos jornalistas Kennedy Alencar e Eliane Catanhêde. Veja o teor da entrevista:
FOLHA - O PT faz aquilo que Lula manda?
CÂNDIDO VACCAREZZA - O PT não faz o que Lula manda. A história do PT não é cumprir o que seus filiados mandam. Lula é o principal quadro do PT, mas o PT tem vontades muitas vezes diferentes das de Lula.
FOLHA - O governo de coalizão começou com um fracasso, sem conseguir apresentar candidato único na Câmara. Isso deixará máculas?
VACCAREZZA - Começou com um sucesso, porque os dois candidatos do segundo turno eram da base. O que ganhou é o que tem condição de dar equilíbrio à Câmara porque é do PT e conta com o apoio do PMDB. Esse núcleo garante mais segurança política ao governo.
FOLHA - Chinaglia unirá a base?
VACCAREZZA - A unificação da base é função do líder do governo, dos partidos da base e do próprio Lula, não do presidente da Câmara. Teremos nos próximos quatro anos a possibilidade de uma nova era no funcionamento da Câmara e do PT. O partido deve apresentar ações propositivas ao governo.
FOLHA - No PT, há defensores de que o núcleo do governo de coalizão seja com PSB e PC do B.
VACCAREZZA - Eu defendo que o núcleo seja PT-PMDB, costurando uma grande aliança eleitoral para 2010 com PSB, PC do B e os demais partidos que apóiam Lula.
FOLHA - Lula tem dito que o PT deve ceder espaço aos aliados nos ministérios. O sr. concorda?
VACCAREZZA - Sou favorável a aumentar o espaço dos partidos aliados, como o PMDB, mas o espaço deve ser dado a quem tem base política no partido, combinando capacidade técnica e conduta ética. Não pode ser ministro quem só tenha capacidade técnica, a não ser que vá para a cota pessoal do presidente. Acho que o PT deve ser generoso com os aliados e deve ser generoso com o PT, que está sub-representado.
FOLHA - O sr. se refere ao desejo do PT-SP de substituir Fernando Haddad (Educação) por Marta Suplicy?
VACCAREZZA - O pleito da indicação de Marta para o ministério não é do PT paulista. É do PT nacional, talvez de todos os partidos da base aliada e de muita gente que não tem relação partidária. Seria indelicado com ministros interinos dizer que a Marta pode ocupar esta ou aquela pasta. Mas ela tem qualificação técnica, conduta ilibada, peso partidário e peso social como poucos ministros.
FOLHA - O sr. defende retirar cargos do PMDB do Senado em favor do grupo neogovernista?
VACCAREZZA - Quem indica ministro é o presidente. Minha avaliação é que o PMDB que assumiu o apoio ao governo institucionalmente não pode estar representado por apenas um segmento do partido, o que parece ser hoje a realidade. Não sei se esse segmento é maioria dentro do PMDB.
FOLHA - Renan Calheiros trabalhou contra Chinaglia. A relação entre Câmara e Senado será tensa?
VACCAREZZA - A tensão que poderia existir seria fruto de uma tentativa de o Senado prevalecer sobre a Câmara. Com Arlindo, esse risco não existe. O Senado não terá mais peso do que a Câmara. Aliás, o Senado, que seria representante dos Estados, não deveria ter iniciativa na proposição de leis. Isso atrasa o processo legislativo. A iniciativa na produção legislativa deveria caber à Câmara, como as questões do Orçamento. O Senado deveria votar só matérias aprovadas na Câmara.
FOLHA - O apoio de Serra e Aécio foi fundamental para a vitória?
VACCAREZZA - As conversas com o PSDB foram importantes para a vitória, sobretudo no segundo turno.
FOLHA - Qual foi a participação de José Dirceu na eleição?
VACCAREZZA - Escreveu no blog dele que apoiava o Arlindo, como militante do PT. Dirceu não é deputado e não teve participação concreta na campanha.
FOLHA - O PT deve assumir uma campanha pela anistia de Dirceu?
VACCAREZZA - Acho que o PT deve assumir.
Será que Marta vem aí?
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