Quando eu morrer quero ficar,
não contem aos meus amigos,
sepultado em minha cidade,
saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
no Paiçandu deixem meu sexo,
na Lopes Chaves a cabeça
esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
o meu coração paulistano:
um coração vivo e um defunto
bem juntos.
Escondam no Correio o ouvido
direito, o esquerdo nos Telégrafos,
quero saber da vida alheia,
Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
a língua no alto do Ipiranga
para cantar a liberdade.
Saudade...
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
o joelho na Universidade.
Saudade...
As mãos atirem por aí,
que desvivam como viveram,
as tripas atirem pro Diabo,
que o espírito será de Deus.
Adeus.
MARIO DE ANDRADE
Contribuição do leitor Ferrão
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