sábado, 21 de julho de 2012
O medo, a ideologia repressiva e o despreparo da polícia paulista
ARTIGO
Por João Antonio
Nesta semana um fato alarmou a população paulista: policiais sem preparo, em ação nas ruas paulistanas, dispararam dois tiros certeiros na cabeça de um empresário depois de uma abordagem mal sucedida. No enterro de seu filho a mãe, em tom de desabafo, afirma: "Hoje temos medo da polícia. Meu filho não morreu em vão". Vejo aqui um inversão de valores, pois ao invés da população se sentir protegida com a presença da policia, sente-se oprimida pelo medo. De onde vem esta cultura?
Ainda na década de 1970, articulado com os órgão de repressão, o governo paulista criou uma modalidade de polícia - Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, também conhecida pela sigla ROTA - com um modelo específico de atuação, especializada em combates complexos e diretos. Seu principal objetivo era, coberto pelo "manto da legalidade", ajudar no combate à esquerda que resistia, em alguns casos com armas, à ditadura militar.
A ROTA, durante décadas espalhou o pânico pelas ruas de São Paulo usando a cultura do medo como instrumento para "coibir" a criminalidade, tanto que ficou conhecida pelo jargão "primeiro atira depois pergunta quem é". Talvez esteja aí um dos elementos principais da contaminação cultural da polícia paulista e porque não dizer brasileira, herança de um Estado autoritário, onde a população sente-se coagida quando a polícia não está integrada à coletividade, e passa a ser um corpo apartado, estranho a sociedade, uma espécie de inimigo de todos, mensageira do pânico.
Infelizmente, a nossa "adolescente democracia" ainda não conseguiu superar resquícios autoritários. Sem dúvidas, os institutos policiais são os principais herdeiros desta cultura, e diversos são os motivos: conservadorismo destes institutos; ideologia de parcela dos governantes; conveniência de governantes democráticos. Enfim, o fato é que depois de décadas de democracia, o Brasil ainda não conseguiu superar a idéia de repressão como único modo de combater a criminalidade.
Soma-se a esta situação a falta de investimento por parte dos governos: em tecnologia para a área de segurança, no preparo cultural dos policiais, na remuneração justa do quadro funcional da segurança e em estrutura adequada para uma boa ação da polícia, tanta na ação preventiva quanto na ação repressiva ao crime.
A melhor síntese da realidade policial em São Paulo vem da mãe do empresário assassinado, que sucinta assim define: "Essas pessoas (policiais) que fizeram isso não podiam estar na rua. Nem nessa profissão. Não os julgo. Julgo os políticos que não colocam dinheiro na educação das crianças, na segurança, no treinamento dos policiais", disse ela ao Jornal Folha de São Paulo edição de 21 de julho de 2012.
Minha solidariedade sincera aos familiares do empresário Ricardo Prudente de Aquino e de tantos anônimos que morrem, injustamente, por ação de policiais despreparados e inação de governos inoperantes que falam muito e pouco fazem pela segurança pública.
Com a palavra o governador Geraldo Alckmin do PSDB que está à frente do governo paulista há quase duas décadas. Já era tempo de melhorar a qualidade da ação da polícia no estado de São Paulo.
João Antônio é advogado e deputado estadual por São Paulo
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Infelizmente, a nossa "adolescente democracia" ainda não conseguiu superar resquícios autoritários. Sem dúvidas, os institutos policiais são os principais herdeiros desta cultura, e diversos são os motivos: conservadorismo destes institutos; ideologia de parcela dos governantes; conveniência de governantes democráticos. Enfim, o fato é que depois de décadas de democracia, o Brasil ainda não conseguiu superar a idéia de repressão como único modo de combater a criminalidade.
ResponderExcluirConcordo com o deputado, em parte: na Inglterra a "democracia", também é jovem? Onde um jovem brasileiro foi morto com 7 tiros na cabeça, por um policial da Scotland Yard? Também é uma polícia despreparada? Ganham mal e não tem treinamento? O senhor tem que saber que a PM tem 94 mil integrantes (segundo Alckmin). É impossível haver erros por parte de algum integrante? Eu não gosto do Alckmin, mas ele tem toda a razão nas suas explicações. A polícia, não deve ser julgado como um todo, e o político de oposição, não deve ser carniceiro e querer se aproveitar de um acontecimento triste, como esse.